segunda-feira, 8 de julho de 2019

6 meses.

Descobrir as certas sutilezas diárias, em seus hábitos escondidos, desabrocharem como um botão de uma rosa, que você rega, que você cuida, e que de repente floresce. Cortar as cebolas ao som do celular, tomando um copo de cerveja e tragando o silêncio de estar sozinha. Tomar um chá quente no final de um dia corrido e escrever as suas obrigações ao som dos prazos, que não são seus aliados, mas te dão o norte. Fumar as ervas divinas, tão finas, misturadas com as toxinas que só um produto ilegal pode oferecer; deitar e amar. Amor camarada. Amor que sai das cobertas e se alonga na frente do espelho. Amor que desce as escadas e faz o café, volta para o quarto, e rega as plantas filhas de um quarto bem amado. Amor que se descobre nas noites, aflita, agitada, agoniada. Amor que tem dúvidas, que se cobra, que se permite, que ultrapassa dentro dos seus próprios limites. Impostos. Sem democracia, com muita história, daqueles que deram o sangue, o sêmen, o ventre, a vida. 

Descobrir individualidades na trajetória coletiva. De ser, poder e desejar você. Desejo selvagem. Desejo, do novo, do aprender, de iluminar o desconhecido. Desejo de desenhar a noite, vendo o molde na internet. Desejo de se tocar e sentir arrepios. Desejos de intensidade transformadora. Desejos que provocam fotofobia pra quem vê sem os olhos certos. Desejos que só se realizam plenamente no coletivo, no caminho de volta, sem volta, para dentro de si. O individual também é o outro e pro outro ele volta expandido como a aquarela no papel.

Descobrir que o dia quando amanhece ainda é noite. E que na noite podemos ser dia, e sonhar. E eu amor-desejo-sonho a todo instante. Mas aprendo a todos os dias uma forma diferente. A cada década uma grande descoberta. A cada fase um pouco mais profundo chega a minha mão ao centro da terra. E nos mergulhos, que há muito eu não dou, eu sinto a mesma alegria adolescente de ouvir um artista novo, de um estilo ousado. Nas tempestades que caem em alguns dos dias, eu me molho com o mesmo sorriso da infância, curiosa, aprendendo a ler. Nos vendavais que cercam a minha vida, envergo, quebro e me colo, andando saltitante por ai.

Descobrir que a maturidade, mesmo parida, segue desnuda esperando se alimentar.

"Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer nada./À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.". (Fernando Pessoa)

[ana carolina~~]