sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O mundo das opressões

É difícil traduzir os nossos sentimentos, mesmo que na nossa boca seja doçura. É muito difícil expressar tudo que nos corrói, nem tudo se resolve com letras, faladas. Eu tenho uma série de curiosidades que as pessoas não veem. Alguns já viram, acompanharam, de perto, de dentro. Eu também as olhei fundo, profundamente, sei onde mora a sua dor, o seu pedido de perdão. As garras que marcam no teu corpo, rastro que deixo em seus lenções, o cheiro que fica em seus dedos... você ainda não me conhece, não teria como conhecer, você não conhece a minha morada. 
Não sabe que de tão doce a boca queima. Ela arde. Do meu tesão você desconhece, do meu desejo você se engasgaria e cuspiria. 
É impossível soletrar minhas feridas. na sintaxe elas não se encaixam, não é sujeito, não é objeto. É verbo intransigente, indialogável, inexiste na língua dos homens. Você não sabe dos meus gostos, dos efeitos da lua sobre meu ventre. Você não sabe dos que me antecederam, das marcas que carrego.
Você me toma como se eu fosse água. E eu mato a tua sede. A sua sede somente eu mato. Mas você ainda não me conhece.
 Não posso te dizer quem eu sou porque eu não consigo me pronunciar. Meu buraco é mais embaixo. Minha armadura é forte. Sou uma guerreira. Você não vai me entender.

[ana carolina ~~ pandêmico II - vivendo no caos