domingo, 19 de dezembro de 2021

30 semanas e um dia.

 Me conhecendo por alto, por dentro, pelo avesso. Me reconhecendo nos detalhes, no comum, pelo genoma, por semelhança. Me deliciando eu mesma, com os dedos, lambendo os defeitos. 

Eu por mim, nas entranhas, nas palavras, no som e lagrimas. Eu por nós, no sangue, oxigênio e nutrição. Eu por todos, nos erros e cansaços. 

Andei na escuridão e me achei. Andei pelas ruas e me perdi. Saudade de tudo que já vivi, de quem fui e sou. Saudade de querer voltar o que ainda é. Sou mas na contradição do novo. 

Reaprendendo a dar os primeiros passos. Soltando as primeiras palavras. Escutando os sons. Descobrindo o que me pertence. Novas formas de pentear o mesmo cabelo. 

Construindo base solida para as destruições completas. Fincando raízes para as grandes tempestades que virão, com longas ondas, com naufrágios, com afogamentos, sem cabelos a segurar. 

Plantando na minha terra o que vou me nutrir amanha.
E assim será
em todas as estações. 


domingo, 24 de outubro de 2021

Ravi

Ligados pela carne, corpo, ventre e alma.
O sol que surge em um horizonte que eu ainda não sei o que é.
Um menino que habita no meu ser mulher.
Ser mãe.
Sua mãe e você meu filho. 


ana carolina~~

domingo, 12 de setembro de 2021

O velho de partida

 Se a vida é movimento, eu não vim pra ficar parada. Inerte. Estou parindo o novo que me vira ao avesso. Por que temer? Saber do futuro nunca saberei, nele eu ainda não sou e nem tenho porque ser. Gestar a libertação e não a prisão ao passado, dele eu nada mais serei, nele eu ja fui. Tomo do desconhecido a minha coragem. Dos órgãos que aqui pulsam e bombeiam sangue eu seguro a certeza. Eu seguirei, em outros trajes, o meu trajeto. Do novo que germina, do eu que transforma. Tenho medo, mas quem nao tem? 


Ana carolina ~~

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Um mês depois

 o meu destino é uma imprecisão, como quando o caos se estabelece e se derrama pelas janelas.
 Nenhum encontro é em vão, quando a primeira peça cai

e arrasta as outras, como em um dominó




"Alguma coisa aconteceu, do ventre nasce um novo coração"

Teria na caderneta, no bloco de notas, no meu grupo solo do whatsapp e talvez nesse blog inúmeros textos. Dignos de todos os likes, por ultrapassar a densidade dos dias e me extrapolar por inteira. Mas eu, sempre reservada, sempre explicita, guardei tudo talhado na minha memória. É que eu estou esperando virar a chave, e como pisar em falso, tudo mudar. Sem despedidas e sem sentimentos. Sem saudades e sem melancolia. Até lá vou amargando as lembranças e as palavras, na minha boca de cica. Pensando em tudo que não deu pra ser, por toda inconsequência perdida no caminhos e nos excessos tão deleitados. No último trago. Forço a chave para que ela vire, será que isso é gestar? Ou parir? Quero quebrar a chave e girar porra nenhuma. Mas mesmo eternamente a porta impedida de abrir, a minha casa já é outra. Virei morada, invadida, ocupada, atravessada, violentada. Todas as mãos passam por mim, todas as vozes e opiniões, ecoam chatíssimas sobre o meu corpo. Descarto chaveiros ou passaportes do patriarcado, sigo insubmissa. Porém continuo morada, de algo que vai me transbordar, sair das minhas entranhas e seguir seus próprios passos e caminhos. E eu, ainda desconhecida por mim, tenho também trilhas a subir, desejos a arder. Só que eu ainda não sei, nunca provisionei esse futuro. Como uma galinha paciente, estou chocando o que serei amanha. Chocada. 

[ana carolina ~~ 

sexta-feira, 12 de março de 2021

intermináveis

Se eu tivesse cabelos longos e negros Talvez eu merecesse  Um motel Um passeio nas barcas Uma cerveja gelada Um galanteio qualquer

Se eu fosse a novidade 

Dos "as vezes" e dos "talvez" 

Quem sabe não faríamos as coisas

Que eu não quero saber

E nem quero imaginar


[2015~~~ana carolina ~~~pequenas modificações para ser menos deprimente

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Retrato

 Essa sou eu no fim do túnel, no fim da noite, da festa, do poço. No espelho d'agua eu vejo o meu reflexo, despida. No chão minhas cinzas de carnaval, abençoando o novo ciclo, feita das folhas de outrora. 

Essa sou eu, filha desse ciclo religioso, não espiritual. Com todas minhas carnes, marcas, manchas e reflexoes. Procuro a todo instante juntar o meus pensamentos, como um quebra cabeça sem sentido. 

Essa sou eu deitada na cama. Vomitando palavras nao ditas, impedidas pelo silêncio. Cansada, jogada e sem energia. Fazendo uma viagem literária, em tempos e lugares nunca vistos pelos meus olhos. 

Essa sou eu com a imaginação solta, que voa, por todas as cores e formas. Esperando ansiosa a aurora, o fim da noite, o inicio do dia. Aguardando a luz que ilumina os novos caminhos, feitos por nossas proprias mãos.   

Essa sou eu fazendo o que deve ser feito, todos os dias as mesmas missões. Espiã dos fatos noticiados nos jornais. Da mesmice do dia a dia á deselegancia da vida como ela é. Caminho pedalando, atenta. 

Essa sou eu digerindo a rotina, que se arrasta na pandemia. 

[Ana carolina _ pandemica 



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A vida é pra valer, a vida é pra levar

 "Para viver um grande amor", um dia Vinícius de Moraes escreveu esse texto, que amo. E eu sempre apaixonada, lia e relia, decifrando o que ele trazia em sua linhas, descobrindo de acordo com o tempo o sentido sensível daquelas palavras. Na contagem dos versos, eu declamava seus sonetos, imaginando os perigos de um dia de lua cheia, e eu, musa sempre inspiradora, desfilaria por ai deixando meu rastro, cheiro e suor. 

Na arte do encontro, com os meus muitos desencontros, fui trilhando meu caminho romântico, fantasioso e fatal. Nem as vezes certas, muitas vezes errada, infantil e jovem, com meus lindos vinte e pouco peitinhos - que continuam no agito! E das certezas que carrego, e não sei se são certas, mas que também não descarto, mas que tenho dúvidas... e quem é que hoje em dia sabe distinguir uma verdade de uma fake news?

É só um garoto, falaram sobre o menino Ney. Sobre mim, falam que eu tenho que ser mãe. 

Desafios da década de 2 do século xx1. 

Voltando e continuando, nessa encruzilhada verbal de pensamentos rápidos - e olhadas no IG- posso dizer que faltou ao Poetinha escrever uma frase "Para viver um grande amor tem que ser artista", e ai, eu, sua parceira literária intertemporal e interdimensional, completaria: "E ter talento!". 

Muito talento! 

Vinicius, velho, saravá!

[ana carolina ~~ pandemico e cansado ~~