quarta-feira, 24 de junho de 2020

"Emoção sempre para derramar"

Saudades daquilo do que eu não gostava, mas sem romantismos, não vivemos tempos românticos, vivemos em tempos de explosão. Da destruição que constrói o novo, das pedras que rolam, que se separam, que choram em grãos de areia.
 O novo sempre vem. Nunca pedindo licença para passar, ele alaga os limites, como o rio nos seus dias de enchente. Arrebenta bordas, limpa avenidas, leva a morro abaixo os galhos e folhas secas.
Tempos de transformação são tempos de reclusão, de observar o avesso, de redescobertas. Ontem caminhando na rua, observei as cores, as folhas verdes no contraste do céu azul. As faixadas das casas, os portões, o cavalo a espiar no final do quintal.
Hoje eu senti o vento no meu rosto, andando com o calor do sol na minha pele. São tempos românticos, de juntar os cacos e se reconstruir sobre uma nova forma, de alinhavar os grandes retalhos antes desconexos. A agulha machuca o tecido e lhe apresenta o seu preenchimento, o seu remédio, a sua nova forma.
O poetinha dizia que o amor só é bom se doer, eu como amante das emoções mais ardentes, acostumada a sentir o salgado das lágrimas, cada vez mais me retorno ao ardor de viver. Ao tesão da descoberta.
Tempos de transformação são tempos de exposição, se colocar na berlinda sem medo. Apresentar-se ao mundo como quando se nasce e recebe as boas vindas. Ontem quando andava pela rua, me observava pelos reflexos das vitrines, das janelas, dos carros. Olhei fixamente nos olhos dos que passavam por mim, escolhi uma cor vermelha.

 O verbo da transformação é conjugado no tempo presente. Nos dias que nos sentimos pequeninas, como os de hoje.

[ana carolina ~ pandemia