terça-feira, 17 de agosto de 2021

Um mês depois

 o meu destino é uma imprecisão, como quando o caos se estabelece e se derrama pelas janelas.
 Nenhum encontro é em vão, quando a primeira peça cai

e arrasta as outras, como em um dominó




"Alguma coisa aconteceu, do ventre nasce um novo coração"

Teria na caderneta, no bloco de notas, no meu grupo solo do whatsapp e talvez nesse blog inúmeros textos. Dignos de todos os likes, por ultrapassar a densidade dos dias e me extrapolar por inteira. Mas eu, sempre reservada, sempre explicita, guardei tudo talhado na minha memória. É que eu estou esperando virar a chave, e como pisar em falso, tudo mudar. Sem despedidas e sem sentimentos. Sem saudades e sem melancolia. Até lá vou amargando as lembranças e as palavras, na minha boca de cica. Pensando em tudo que não deu pra ser, por toda inconsequência perdida no caminhos e nos excessos tão deleitados. No último trago. Forço a chave para que ela vire, será que isso é gestar? Ou parir? Quero quebrar a chave e girar porra nenhuma. Mas mesmo eternamente a porta impedida de abrir, a minha casa já é outra. Virei morada, invadida, ocupada, atravessada, violentada. Todas as mãos passam por mim, todas as vozes e opiniões, ecoam chatíssimas sobre o meu corpo. Descarto chaveiros ou passaportes do patriarcado, sigo insubmissa. Porém continuo morada, de algo que vai me transbordar, sair das minhas entranhas e seguir seus próprios passos e caminhos. E eu, ainda desconhecida por mim, tenho também trilhas a subir, desejos a arder. Só que eu ainda não sei, nunca provisionei esse futuro. Como uma galinha paciente, estou chocando o que serei amanha. Chocada. 

[ana carolina ~~